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O Meu, o seu, o nosso consumo colaborativo

14 de Julho de 2015

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Em meados de 2007, um grupo de designers de São Francisco, nos Estados Unidos, estava precisando de uma graninha extra quando um deles ouviu uma conversa na rua. A pessoa reclamava que todos os hotéis da cidade estavam lotados por conta de uma conferência na cidade. Foi quando ele se ofereceu a alugar quartos não usados da casa onde morava para quem fosse participar da conferência. A ideia deu certo e ele chamou os outros amigos para fazerem o mesmo. Eles mal imaginavam que daí surgiria o AirBnb, o site de hospedagem colaborativa mais procurado no mundo todo, avaliado em 10 bilhões de dólares no ano passado.
 
Com isso todo mundo ganha: tanto quem tem um espaço legal sobrando quanto quem precisa de um lugar com aquele clima de ‘lar doce lar’ para ficar por um tempo. E esse é só um exemplo de centenas de sites que apostam na economia compartilhada pelo mundo – um movimento que com certeza está rolando ao seu redor e talvez você nem tenha percebido.
 
A economia colaborativa (também conhecida como economia compartilhada) é essencialmente uma forma de usar a tecnologia para fazer negócios entre pessoas, economizar, promover a sustentabilidade e, segundo a jornalista Bruna Rasmussen, do Hypeness, também renovar a sua fé na humanidade. “Afinal, diferente do que as notícias na TV e os comentários em portais nos mostram, a maioria das pessoas são boas, honestas e não querem roubar sua carteira ou o seu rim”, brinca – mas falando com uma pitada de seriedade também.
 
“A economia compartilhada é um fenômeno muito recente, que tem distintas formas. Não se trata de um segmento da economia; é antes uma forma de conectar atores que permeia, em princípio, qualquer setor de atividade”, resume Dora Kaufman, pesquisadora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), em entrevista para o Página 22. “Um dos seus atributos mais inovadores é permitir que indivíduos se agrupem e produzam algo compartilhado”.
 
O espanhol Albert Cañigueral, engenheiro multimídia especializado no assunto, é um dos que acreditam que a economia colaborativa ganhou força de fato como uma resposta à crise econômica global de 2008 – durante a qual as pessoas passaram a se questionar sobre a cultura do “hiperconsumo” que se estabeleceu logo depois da Segunda Guerra Mundial, a coisa do “eu preciso ter” sempre seguido do “eu preciso ter ainda mais”. Cañigueral aposta que este modelo de capitalismo atingiu seu limite. “Por isso estamos avançando em direção à economia de performance, versus a economia de produção que tínhamos até agora”, explica.
 
O fato é que, no coração da economia colaborativa estão empresas e projetos que surgiram a partir de variações do compartilhamento pessoa-para-pessoa (o chamado peer-to-peer), como é o caso do AirBnb, beneficiando a relação direta entre os indivíduos e permitindo o chamado consumo colaborativo.
 
No consumo colaborativo a palavra-chave é compartilhar. Roupas, livros, jogos, ferramentas, carros e até casas que não são usadas frequentemente são doadas/alugadas/emprestadas para alguém que esteja precisando exatamente daquilo, ainda que temporariamente. No fim das contas, todo mundo sai ganhando: proprietários ganham um dinheirinho com coisas que estavam sem uso; e os que não pegam emprestado sem qualquer custo, ainda assim pagam um preço muito menor do valor de custo do produto. Os lucros são vários: além da conveniência, existe aí uma redução de gastos, impacto ambiental menor e até o benefício de usar algo que pode estar além da sua capacidade de compra.
 
Aqui no Brasil o conceito está em pleno crescimento: uma pesquisa da Market Analysis com mais de 900 pessoas mostra que pelo menos 20% delas já ouviram falar ou leram alguma coisa sobre consumo colaborativo. E quanto maior a renda, mais popular: 42% da classe A já praticaram essa forma de consumo em alguma maneira. Se pensarmos globalmente, o resultado é ainda melhor: um estudo da Pricewaterhouse Coopers mostrou que o mercado de consumo colaborativo pode chegar a 335 bilhões de dólares em 2025! 
 
Por que agora?
 
Em um mundo cada vez mais populoso, o compartilhamento, ou escambo, está se tornando palavra de ordem. Mas na real, a prática do escambo (troca de mercadorias ou serviços sem fazer uso de dinheiro) existe há muito tempo. Tanto que a origem da palavra em português (es+câmbio) vem lá da época do descobrimento do Brasil, quando os portugueses ofereciam bugigangas como espelhos e apitos em troca de trabalho indígena. Se a prática é tão antiga assim, por que ela está voltando agora?
 
Em palestra para o TED, Rachel Botsman, autora do livro What’s Mine is Yours: The Rise of Collaborative Consumption (algo como O que é meu é seu: o aumento do consumo colaborativo), explica que tudo isso acontece por conta de quatro fatores:
 
 - O reconhecimento da importância da comunidade: segundo ela, conceitos como amizade e vizinhança estão ficando cada vez mais fortes. Estamos reaprendendo a olhar para o outro de uma forma mais solidária;
 
 - Tecnologias em tempo real aliadas a redes sociais como o Twitter mudam consideravelmente a forma como nos comportamos. Ou seja, precisamos de uma furadeira emprestada agora, conseguimos falar sobre isso na internet e conseguir a resposta de quem tem esse produto no tempo que precisamos;
 
 - Preocupações ambientais não resolvidas, como o aquecimento global, períodos de seca mais longos que o normal, florestas sendo exterminadas por conta do consumo desenfreado;
 
 - A situação global de recessão econômica que está fazendo com que as pessoas revejam os comportamentos de consumo. “Será mesmo que eu preciso comprar isso e ficar com pouco dinheiro no fim do mês?”.
 
Resumindo: em um período onde a regra principal é economizar (recursos naturais, dinheiro, tempo), o consumo colaborativo vem para mostrar que a colaboração faz bem para o ser humano e o planeta: quem não tem dinheiro suficiente para comprar certas coisas pode pegar emprestado.
 
“Ser inteligente para utilizar tudo o que temos à nossa volta está começando a ser percebido como algo normal, portanto, é uma mudança cultural na forma como as pessoas suprem suas necessidades (de produtos, serviços, etc)”, afirma Cañigueral.
A iniciativa depende de você. Vamos começar?
 
Saiba mais:
 
 
A escritora Rachel Botsman fala sobre como o consumo colaborativo está mudando o comportamento humano em palestra do TED (legendada).
 

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